Karl Marx e a Sociologia do Conhecimento – 2ª edição ampliada
Karl Marx e a Sociologia do Conhecimento – 2ª edição ampliada
de SSF/RIo
Sumário
Apresentação 7
O Ponto de Vista da sociologia diferencial 11
A realidade social é integrada em modo dialético. 11
O Conhecimento Na Realidade Social 17
A colocação do conhecimento em perspectiva sociológica 18
A vertente sociológica de Saint-Simon 19
Determinismos sociais 20
Estrutura de classes 21
O conservadorismo hegeliano como obstáculo 22
A Consciência Sociológica contra os preconceitos filosóficos 23
Tecnificação, Regulamentações Sociais e Desigualdades. 24
Era da Automação e das Máquinas Eletrônicas 24
Controle automatizado e disparidade de opulência e pobreza 24
O sistema de controle da produção e o saber operário 25
A tecnificação e as regulamentações sociais 25
A Mentalidade de modernização 27
Durkheim e a Crítica ao utilitarismo 28
Consciência do contraste 28
Técnica e Tecnificação 29
O Plano organizado e O Espontaneísmo social 29
Tecnificação e sintaxe 30
Desenvolvimento das expectativas 30
Problemas reais e esquemas prefixados 31
A mirada diferencial 32
A divisão do trabalho técnico e a introdução do maquinismo 33
Não há ligação originária entre ciência e técnica. 34
A distributividade do conhecimento técnico 35
Notas Complementares ao Capítulo 2 38
Karl Marx e a Sociologia do Conhecimento 39
A consciência da sociologia do conhecimento 39
Orientações de Durkheim 40
Mannheim e o equívoco da causalidade final 41
O Suposto a priori axiológico. 42
Materialismo e espiritualismo são abstrações. 43
A Qualidade Subjetiva 44
O equívoco de um processo mental adaptativo 45
Problema sociológico da ideologia em Marx 46
Sociologia e política no conceito de alienação 47
Ideologia proletária e Teodicéia 48
A Dialética das Alienações em Marx 49
Os símbolos sociais e o conhecimento 51
Marx e o fetichismo da mercadoria 52
A liberdade libertadora no mundo da produção 53
A laicização na crítica da consciência alienada 54
Práxis social e dialética 55
Marx e as suas duas revoltas na conceituação. 56
Humanismo e sociologia em Marx 58
Práxis e sociologia 59
Graus de prometeísmo 59
A relativização do arcaico e do histórico 60
O advento da liberdade humana e sociedades históricas 62
Mentalidade da Economia Política 64
Psiquismo Coletivo da Estrutura de Classes 66
As Três dimensões do Psiquismo 67
A Postura do Sociólogo 69
O aproveitamento da sociologia de Marx 71
Hegel e Marx 71
O hegelianismo de Mannheim 74
Ideologia e Conhecimento Político 75
Realismo sociológico 76
Um conhecimento político da burguesia 77
Mirada diferencial sobre o conhecimento político 77
Objetivações da ordem institucional 78
Os temas coletivos reais 80
As classes do conhecimento 82
Artigo Anexo 85
A desconstrução das desigualdades sociais 87
Artigo Anexo-Subtítulos 91
Perfil do Autor Jacob (J.) Lumier 123
Índice 125
Notas de Fim 126
Apresentação[1]
Não há negar que o estudo da teoria sociológica não tem mais como preservar-se abstrato na era das técnicas de informação e comunicação. A ideia de Max Weber (1864 – 1920) voltada para pôr em obra uma metodologia das ciências sociais levando em conta unicamente as fontes documentais clássicas de história das civilizações, como os relatos de época e a pesquisa historiográfica, padece de anacronismo diante do impressionante desenvolvimento das técnicas de comunicação, quando em um abrir e fechar de olhos são percorridos sem fronteiras os diferentes tempos e escalas de tempos inerentes às civilizações, nações, tipos de sociedades e grupos variados.
Isto não significa que a teoria sociológica tenha seu alcance diminuído. Pelo contrário, novos caminhos surgem no horizonte, e se os sociólogos mais formais, como o notável Max Weber, concederam pouco mais que um olhar disperso aos níveis culturais, deixando escapar a funcionalidade dos seus quadros sociais, hoje em dia o sociólogo já não mais pode dar-se ao luxo de olhar os detalhes da história e as significações práticas das civilizações sem aprofundar a visão de conjuntos.
A era das técnicas de informação faz ver que os problemas sociológicos não mais serão alcançados sem levar em conta não somente o fato de que todo o conhecimento implica uma mentalidade coletiva e individual que lhe serve de base, mas igualmente a constatação de que nenhuma comunicação pode ter lugar fora do psiquismo coletivo.
Quanto mais tais técnicas se afirmam influentes, maior é o peso do psiquismo coletivo como problema sociológico. Mais notados igualmente são as tendências para a tecnicização / tecnificação do saber, com seus esquemas prévios, disseminando a estandardização sobre a consciência coletiva e sobre os níveis culturais da realidade social.
Desta forma, revela-se indispensável o estudo da dialética sociológica, em especial a aplicação da mirada diferencial ao problema da inserção da psicologia coletiva no âmbito da sociologia, para pôr em relevo a variabilidade e o pluralismo social efetivo [i].
O ponto de partida do presente ensaio de sociologia do conhecimento é o fim da competição entre psicologia e sociologia. Admite-se que as duas disciplinas vão buscar uma à outra os seus conceitos e a sua terminologia, incluindo as noções de expectativa, símbolo, mentalidade, atitude, papel social, ação.
Além disso, o fim da oposição entre a psicologia coletiva e a psicologia individual há tempo foi igualmente proclamado, tendo sido afirmada a ideia de que o social penetra no psicopatológico e que essa penetração do social é um fato consequente, não só para a psicologia patológica, mas igualmente para a psicologia fisiológica [ii].
A sociologia do conhecimento ao longo do seu desenvolvimento trouxe consigo para dentro do campo sociológico a pesquisa em psicologia coletiva. Da mesma maneira em que a introdução do problema da consciência coletiva por Émile Durkheim (1858-1917) acentuou tal inserção da psicologia coletiva no âmbito da sociologia, a descoberta da realidade social por trás do fetichismo da mercadoria, conseguida por Karl Marx (1818-1883), trouxe à luz o problema da dialética das alienações e, com isto, consolidou a pesquisa em psicologia coletiva como aquisição sociológica.
Além disso, o fato de que o mundo de realidade social ultrapassa qualquer imposição de condutas preestabelecidas constitui importante referência da sociologia diferencial [iii] em face do controle capitalista.
A visão mercatória da sociedade como constituída por indivíduos para a realização de fins que são primariamente fins individuais, cultivada no atomismo social e no utilitarismo, é contrária à sociologia. Repugna a fragmentação da realidade social em uma poeira de indivíduos isolados, os quais, desprovidos de toda a ligação funcional de conjuntos, restariam meros suportes de comportamentos estandardizados.
Finalmente, esta obra tem em vista contribuir para as leituras em sociologia diferencial, e leva em conta a vinculação aos direitos humanos sem distanciar-se do caráter empírico e sem subordinar-se às doutrinas jurídicas nem tornar axiomáticas as proposições explicativas.
[1] A primeira versão E-book deste trabalho, em 64 págs., é de 2009 na Web ISSU.
[i] Veja adiante “O Ponto de Vista da sociologia diferencial”.
[ii] Veja Mauss, Marcel: “As Relações Reais e Práticas da Psicologia e da Sociologia“, in “Sociologia e Antropologia-vol.I”, São Paulo, EPU / EDUSP, 1974, 240 pp. (1ª edição em Francês: Paris, PUF, 1950).
[iii] A respeito da orientação coercitiva da teoria política, não haverá exagero em lembrar sua proposição contrária à sociologia de que a sociedade se manteria unida pelo exercício da força do grupo dos que detêm o controle de sanções e a capacidade de garantir a conformidade à lei, isto é, impor a coação. É a chamada “solução hobbesiana para o problema hobbesiano da ordem”. Cf. Dahrendorf, Ralf (1929 – 2009): “Ensaios de Teoria da Sociedade” (Essays in the Theory of Society), Rio de Janeiro, Zahar – Edusp, 1974, 335 pp. (1ª Edição em Inglês, Stanford, EUA, 1968).