A crítica aos preconceitos filosóficos e sua implicação na teoria sociológica
– Parte 02
Continuação do artigo postado com o mesmo título. Link: https://leiturasociologica.wordpress.com/2016/03/03/a-critica-aos-preconceitos-filosoficos-e-sua-implicacao-na-teoria-sociologica/
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O presente artigo deveria fazer parte do e-book “Cultura e Consciência Coletiva-2” http://www.oei.es/salactsi/CulturaConsci_06_09.pdf . Deve ser lido como parte integrante de uma série de escritos de teoria sociológica cujos links seguem no fim da postagem com a Primeira Parte (link acima).
Trata-se de situar algumas linhas básicas de pesquisa sobre os obstáculos da explicação em sociologia e, por essa via, descrever o debate suscitado em torno ao problema do círculo hermenêutico, como matéria de interesse para o estudo da sociologia do conhecimento e da metodologia científica.
Jacob (J.) Lumier
Sumário
A referência do Psiquismo Coletivo. 7
A teoria sociológica dos quadros sociais 8
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A negação do conceitual
Em relação aos comentários expostos na Parte 01 deste artigo https://leiturasociologica.wordpress.com/2016/03/03/a-critica-aos-preconceitos-filosoficos-e-sua-implicacao-na-teoria-sociologica/, que precede ao presente, deve notar que, em sociologia, o todo é apreendido, e a crítica vai além dos preconceitos filosóficos inconscientes.
Uma vez que os mesmos sejam tomados como conceitos gerais, o sociólogo constata que não importa a atribuição de “filosóficos”. Antes de que essa particularidade seja destacada, releva o fato de que o problema dos conceitos gerais, examinado por Dilthey e debatido pelos filósofos da ciência, em torno à reflexão sobre o círculo hermenêutico, revela-se um aspecto da expressão conceitual presente nos níveis culturais de uma sociedade – que compreende seus modelos, ideias, valores, mentalidades – , simples manifestação do caráter discursivo recorrente na comunicação social, que se mostra na cristalização das teorias, argumentos e sentenças diversas já objetivadas.
Ao situar a recorrência do cristalizado em face da experiência humana, o sociólogo reconhece, nesta última, não só o princípio de negação, mas o caráter inelutável que a negação[i] da expressão conceitual e do caráter discursivo revela na preparação da explicação, sua indispensabilidade efetiva na descoberta dos determinismos científicos e, em especial, dos determinismos sociais.
A ocorrência de um abismo entre os homens e os significados deixa ver a afirmação de um Nós-outros como tomada de consciência dos obstáculos, de tal sorte que o cidadão normal vê sua profissão como se fosse uma ruela de uma imensa engrenagem, alcançando, desta forma, a percepção dos determinismos sociais.
O tema do Nós-outros e a apreensão das totalidades
Em consequência, o sociólogo deve levar em conta e buscar um desdobramento analítico e operativo ao tema do Nós-outros na constatação assinalada igualmente por Dilthey, de que, no seu modo de dizer, “às relações permanentes dos atos psíquicos de um ser humano com os de outro estão conjugados sentimentos permanentes de co-pertinência” (e não somente uma fria representação dessas relações) [ii].
Note-se, em complementação, que, a partir dessa formulação do tema do Nós-outros em relação à apreensão das totalidades que o mesmo implica, a importância das análises filosóficas de Dilthey para a sociologia foi bem apreciada.
Um Nós-outros constitui um todo irredutível à pluralidade dos seus membros, mas imanente às suas partes – daí representar um dos primeiros focos da dialética na realidade social cuja variabilidade é da competência do sociólogo pôr em relevo. [Ver NOTA COMPLEMENTAR sobre o todo real no final deste artigo].
Admite-se, dessa forma, que a fundamentação dos tipos sociológicos foi beneficiada do conhecimento de que as totalidades humanas são apreendidas por intuição e não apenas dependentes da interpretação abstrata do sentido interno das condutas, como pretendeu Max Weber [iii].
Para o sociólogo, a apreensão das totalidades de que Dilthey já tinha falado antes de Mauss [iv] é suficiente para chegar aos tipos sociológicos.
Em que pese o caráter abstrato do problema, a formulação de Dilthey acima mencionada, sua percepção do tema do Nós-outros como afirmado na co-pertinência das relações com outrem, implica a apreensão de significações enxertando-se por vezes nessas totalidades e fazendo parte delas.
E Gurvitch não diminui a importância da análise diltheyana estabelecendo a noção de compreensão – que comentamos na Parte 01 deste estudo. Pelo contrário, faz sobressair o alcance dessas significações apreendidas e, como tais, oferecendo-se à interpretação dos tipos sociológicos, especialmente no âmbito dos problemas das civilizações, estudados nos respectivos ramos da sociologia, ou seja, as “ideias” ou as obras reconhecidas ao Direito, à arte, à moral, à educação [v].
O Eu genérico
Sem embargo, é inegável que existem certos preconceitos filosóficos inconscientes que penetram nas ciências sociais. Vale dizer, desde o ponto de vista sociológico, o problema dos pré-ajuizamentos ou suposições prévias ultrapassa o aspecto metodológico examinado como círculo hermenêutico, para tomar lugar nas análises da práxis, como atividade humana inteligível, onde adquire referencias muito específicas no âmbito da teoria sociológica, como explicação da realidade social.
Se poderia supor que seriam divergências de orientação entre os sociólogos em busca de maior eficácia nas explicações e teorias. Certamente, há um aspecto que releva dessa busca, mas certos tópicos não devem ser classificados com tal simplicidade, já que seu carácter dogmático e pré-científico vem a ser reconhecido por pensadores contemporâneos alheios e até antipáticos à sociologia.
É o caso da falsa hipótese de que haveria um Eu genérico idêntico em todos, suposição herdada da filosofia do século XVIII, através de Rousseau (vontade geral) e Kant (consciência transcendental idêntica em todos). Aliás, note que a origem desse preconceito foi igualmente assinalada por Popper, que, já se sabe, não cultiva simpatia pela sociologia, mas reconhece que “a ideia de Kant de um tipo padrão de intuição pura compartilhada por todos nós (…) dificilmente pode ser aceita” (ver Popper, Karl: “Conhecimento Objetivo”, p.34, op.cit.).
Note que o postulado da refutabilidade necessária de todo o conhecimento científico, sustentado por Popper, como tomada de posição filosófica a priori, ineficaz do ponto de vista metodológico – como já vimos em escrito anterior a respeito de sua frustrada tentativa em refutar a Heisenberg [vi] – não pode ser confundida, em absoluto, com a aceitação do pré-conceito filosófico do século XVIII que se questiona em Claude Lévi-Strauss.
A crítica de Gurvitch a este último, por sua vez, é de que a afirmação da “existência de um estruturalismo lógico universal na base de toda a sociedade” releva dos preconceitos do século XVIII e da ideia de uma consciência transcendental e universal.
Segundo a orientação crítica de Gurvitch, Lévi-Strauss “parece crer que o fato de se subscrever ao juízo de Paul Ricoeur, que qualifica seu pensamento de ‘kantismo sem sujeito transcendental’, vá fortalecer sua posição, esquecendo que, para Kant, não podia haver oposição entre ‘sujeito transcendental’ e ‘consciência transcendental’, já que esta é reconhecida como idêntica para todos (ver ”Los Marcos Sociales del Conocimiento”, pp.145/6, op.cit.).
O paradigma da via mediana
Trata-se de uma crítica que toca mais de perto a defesa do realismo, como ponto de vista da teoria de sociedades históricas, e se assegura como reconhecimento da realidade social-histórica, no sentido em que Lukacs nos fala do realismo literário e romanesco de Walter Scott: a crítica como maneira de avaliar guardando uma relação sentida com o presente, revivendo o passado como a pré-história do presente, buscando a via mediana que passa através da luta dos extremos, sem esquecer que, nestas crises, grandes frações da população se mantiveram sempre entre os campos opostos, com simpatias flutuantes por um ou outro partido e que, frequentemente, são essas simpatias e flutuações que desempenharam um fator determinante para a saída real da crise [vii] .
Com efeito, é a assimilação metodológica dessas “simpatias e flutuações” ambivalentes da realidade social-histórica em seu crescimento; é a sublimação dessa experiência ambígua na consciência coletiva, sob a “tensão crescente e decrescente da espontaneidade”, que informa a leitura crítica de Gurvitch sobre os preconceitos filosóficos inconscientes no pensamento de Durkheim.
A referência do Psiquismo Coletivo
É sobretudo a noção de “consciência continente” levando a inúmeros impasses que Gurvitch observou quanto à tese de Durkheim da transcendência da consciência coletiva, como fundamento da irredutibilidade da mesma, como prova desse fenômeno [viii]. Segundo Gurvitch, nessa tese de uma consciência voltada para si própria e fechada, introspectiva, não se consegue explicar a natureza da consciência coletiva, já que fica ela projetada “para fora do psiquismo e do consciente reais” sendo então confundida com as construções de uma metafísica espiritualista “desviada para a metamoral e mesmo para a teologia”, não passando de preconceito psicológico.
Por contra, como todo conceito sociológico relativista e realista, assimilando a aplicação das teorias de consciência aberta, a consciência coletiva requer a aplicação dos procedimentos dialéticos de complementaridade, implicação mútua, polarização e reciprocidade de perspectivas para ser adequadamente descrita (a dialética prepara a explicação mediante a descrição), em sua “realidade irredutível” diante da consciência individual, diante das obras de civilização (moral, direito, conhecimento, religião, educação, etc.), e das outras consciências coletivas.
Gurvitch esclarece essa descrição nos dizendo que a irredutibilidade que prova a especificidade sociológica desse fenômeno da consciência coletiva como patamar da realidade social, observa-se na qualidade das “direções opostas” do psiquismo, na atenção voltada para o Eu, o Outro e o Nós-outros, como direções para “a tensão crescente e decrescente da espontaneidade”, que se encontram num “contínuo vaivém” na totalidade concreta do psíquico. Desta forma, se compreende os casos históricos em que os conflitos das crenças, das avaliações, das próprias percepções do mundo exterior pelas diferentes classes sociais, são por vezes mais importantes do que os conflitos de interesses econômicos.
A teoria sociológica dos quadros sociais
Na sociologia, o materialismo e o espiritualismo não passam de abstrações do esforço humano. A distinção observada por Marx entre consciência real ou imanente à vida social, por um lado, e, por outro, a consciência mistificada ou ideológica – domínio dos preconceitos filosóficos inconscientes [ix] – começa da constatação de que, à semelhança das obras de civilização, a consciência faz parte das forças produtivas em sentido lato e desempenha um papel constitutivo, seja como linguagem, seja pela intervenção do conhecimento, seja ainda como direito espontâneo, nos próprios quadros sociais.
Segundo Gurvitch, esses quadros sociais são chamados por Marx “modos de ação comum” ou modos de colaboração ou relações sociais, nos quais se incluem as manifestações da sociabilidade, os agrupamentos particulares, as classes sociais e as sociedades.
O significativo aqui, do ponto de vista do alcance determinístico da sociologia, é que esses quadros sociais exercem um domínio, um envolvimento, sobre a produção material e espiritual que se manifesta no seu seio, domínio esse, por sua vez, que é exatamente o que se prova nas correlações funcionais.
Quanto às ideologias, ficam excluídas das forças coletivas ou produtivas por representarem uma “mistificação”, um aspecto da alienação: a alienação do conhecimento desrealizado e perdido nas projeções para fora, que inclui as “falsas representações” em que os homens e as suas condições surgem invertidos, como numa câmera escura.
Embora corresponda a um certo nível das forças produtivas, esses quadros sociais podem ser adaptados à sua base, às manifestações do espontaneísmo coletivo. Todavia, as suas manifestações estruturadas e organizadas entram em conflito com as forças produtivas quando, ao tomarem um caráter estabilizado e cristalizado, conseguem opor-se lhes, ao passo que, em outras circunstâncias, elas se tornam os seus coeficientes positivos. Como nota Gurvitch [x], na dialética dos níveis de realidade social, os quadros sociais e a consciência real são produtos das forças produtivas strictu-sensus – isto é podem ficar objetivados – mas, sob outro aspecto, são igualmente os seus produtores e assim se afirmam como elementos reais da vida social. Essa dialética dos níveis em Marx ressalta quanto mais observadas forem as forças produtivas ou forças coletivas, não como fatores isolados, mas como a causa social total.
Quer dizer, o conceito de forças produtivas fica, então, dessa maneira que Gurvitch chamará fenômeno social total, compreendido no sentido de extensão máxima, identificando-se com o conjunto dos níveis ou dos graus da realidade social. Portanto, não há negar que a compreensão da realidade social e da sociologia que a estuda é bem definida em Marx, e Gurvitch reúne várias formulações da obra desse autor enfatizando a ultrapassagem do dualismo (espiritualismo/materialismo) como levando ao coeficiente existencial e ao coeficiente humano do conhecimento. Assim, em Marx, é no domínio da realidade social que “pensar e ser são simultaneamente diferentes e um só” (Manuscritos de 1844, trad. Molitor, vol.VI, p.28); que a velha oposição entre espiritualismo e materialismo foi, por todo o lado, posta de parte” (“La Sainte Famille”, Molitor, Vol. II, p.167); que “o subjetivismo e o objetivismo, o espiritualismo e o materialismo, a atividade e a passividade perdem a sua oposição e, por consequência, a sua existência” (Manuscritos, ib.p.33). Em suma, para Marx, a ultrapassagem do dualismo das ciências naturais e das ciências humanas não deve ser procurada na absorção das ciências humanas pelas ciências naturais, mas na “constatação de que qualquer ciência é uma atividade social prática e, portanto, comporta um coeficiente humano” – conclui Gurvitch – notando que é este o posicionamento e a formulação de Marx nas “Teses sobre Feuerbach” [xi].
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NOTA COMPLEMENTAR SOBRE O TODO REAL
A imanência recíproca que constitui o todo real em sua dinâmica na realidade social varia p. ex. caso se trate de Nós-outros semiconscientes ou de Nós-outros conscientes, Nós-outros passivos ou Nós-outros ativos, Nós-outros em luta ou Nós-outros em paz.
A força de atração exercida pelos Nós-outros sobre os Eu que neles participam encontra-se em relação de proporcionalidade direta com a intensidade da fusão constituindo esses Nós-outros.
A força de pressão exercida pelos Nós-outros sobre os seus membros encontra-se, pelo contrário, em relação de proporcionalidade inversa com a intensidade da fusão.
Evidentemente, tratam-se forças psicossociológicas diferenciadas e não-equivalentes de tal sorte que as resultantes dessas variações na atração e na pressão têm qualidades diferentes e caracterizam as formas de sociabilidade concorrentes.
No caso das massas a pressão encontra-se no máximo – em consequência a fusão não atinge mais do que um grau muito fraco em intensidade e em profundidade.
No caso das comunhões a atração está no máximo e a pressão no mínimo – em consequência as fusões são mais intensas e mais profundas.
As variações não são limitadas às massas ou às comunhões. Caso consiga integrar uma porção maior ou menor do que existe de mais interno e de mais pessoal nos Eu e nos outros, um Nós-outros afirma-se como um foco de intimidade e calor, cujos graus, porém, podem descer muito baixo ao ponto de reduzi-lo ao estado de pura virtualidade e afrouxar a participação dos membros em passividade quase completa – a própria fusão pode ser inconsciente ou não se realizar além da superfície.
Gurvitch observa que se existisse identidade entre os Eu participantes em os Nós-outros, estes não poderiam como disse constituir-se em quadro social (o “todo concreto”) e tenderiam a dissolverem-se num gênero abstrato, num “conjunto sem ligação entre exemplares idênticos”.
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Notas de Fim
[i] Em realidade social, a negação do discursivo assinala o desgaste do simbolismo, a fadiga geral dos símbolos, pelo que tem aprofundamento a distância entre o símbolo e o simbolizado, de tal sorte que os conceitos e as teorias mostram capacidade reduzida em comunicar conteúdos reconhecidos na experiência humana.
[ii] Ver Dilthey, Wilhelm: “Introducción a las Ciencias del Espíritu: em la que se trata de fundamentar el estudio de la sociedad y de la historia”, tradução e prólogo por Eugenio Ímaz , México, Fondo de Cultura Económica, 1944, 485 pp. (1ªedição em Alemão, 1883).
[iii] Ver Gurvitch, Georges (1894-1965): “O Conceito de Fenômenos Psíquicos Totais” in “Tratado de Sociologia – Vol.2”, Revisão: Alberto Ferreira, Iniciativas Editoriais, Porto 1968, (1ªedição em Francês: PUF, Paris, 1960).
[iv] Mauss, Marcel: Sociologia e Antropologia – vol.I, tradução Lamberto Puccinelli, São Paulo, EPU/editora da Universidade de São Paulo EDUSP, 1974, 240 pp. (1ªedição em Francês: Paris, PUF, 1950).
[v] Gurvitch, G.: “O Conceito de Fenômenos Psíquicos Totais”, op. cit.
[vi] Ver: Lumier, Jacob (J.):”Leitura da Teoria de Comunicação Social desde o Ponto de Vista da Sociologia do Conhecimento“(As Tecnologias da Informação, as Sociedades e a Perspectivação Sociológica do Conhecimento). E-book Monográfico, 338 págs. Julho, 2007, bibliografia e índices remissivo e analítico eletrônico. (Com Anexos) Link http://www.oei.es/salactsi/lumniertexto.pdf Ver os ANEXOS SOBRE METODOLOGIA – A N E X O – 01: A MANIFESTAÇÃO DO PROBLEMA DA MULTIPLICIDADE DOS TEMPOS OU: O CASO DO EXPERIMENTO DE POPPER E O FRACASSO DA TENTATIVA DE REFUTAÇÃO DE HEISENBERG. Págs.256 a 267
[vii] Lukacs, Georges: ‘Le Roman Historique’, tradução Robert Sailley, prefácio C-E. Magny, Paris, Payot, 1972, 407pp. (1ªedição em Alemão : Berlim, Aufbau, 1956). pp 30 a 66
[viii] Gurvitch, Georges: “A Vocação Actual da Sociologia –vol.II : antecedentes e perspectivas”, tradução da 3ªedição francesa de 1968 por Orlando Daniel, Lisboa, Cosmos, 1986, 567pp. (1ªedição em francês: Paris, PUF, 1957). pp.71,72.
[ix] Posto que o plano das ideias e a produção intelectual no tipo de sociedade capitalista sejam caracterizados pela consciência alienada, como forma de objetivação em que as forças sociais perdem suas características sociais, e nessa perda são projetadas para fora de si (no fetichismo da mercadoria), se diferencia, no plano do psiquismo, uma consciência mistificada ou ideológica, impregnada pelas representações características de um período particular da sociedade em que a primazia cabe às forças materiais. O domínio dos preconceitos filosóficos inconscientes, incluindo os conceitos gerais, por sua vez, releva do fato de que a percepção da realidade social é consideravelmente reificada, em consequência do fetichismo da mercadoria.
[x] Gurvitch, G.: “A Vocação Actual da Sociologia –vol. II”, op. cit. p. 294/5.
[xi] Gurvitch, G.: “A Vocação Actual da Sociologia –vol. II ”, op. cit. p.286