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A Sociologia da Literatura nas Relações Humanas.


A Sociologia da Literatura nas Relações Humanas:

Comentários em torno ao problema da apreensão do desejado.

por


Jacob (J.) Lumier

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A importância de Goethe ou de Shakespeare não provém de sua filosofia, mas de terem criado um objeto novo que é o objeto literário.

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Desde o ponto de vista da finalidade literária e em face dos esforços de interpretação, o fato literário não pode ser reduzido a significações sociais nem a significações psicológicas para compreender, ajuizar e classificar os romances.

A significação considerada como atributo de uma visão de mundo mais ou menos coerente (uma weltanschaung, no sentido compreendido por Lucien Goldmann em “A Sociologia do Romance”) levaria a que os escritores surgiriam com espantosa insignificância ao lado dos pensadores: que seria um Rousseau ao lado de Kant? Gide comparado a Nietzsche?

Por contra, as noções sociológicas de “objeto literário” e “eficácia estética”, como níveis da aspiração aos valores (1), levam a repensar em outro modo a significação aplicada ao fato literário: a importância de Goethe ou de Shakespeare não provém da sua filosofia, mas de terem criado um objeto novo que é o objeto literário. Nesse objeto, certo número de idéias (uma visão de mundo) se encontram dotadas da máxima eficácia estética, mas prevalecem também as emoções.

Quer dizer, favorecendo a especificidade do fato literário como configuração de valores, e se admitirmos que a eficácia está mais próxima da “afetividade” do que da intelecção, teríamos confirmada a constatação de que algumas idéias afetivamente muito significativas (idéias afetivas vinculadas à elaboração do personagem e implicando certa propensão ao direito, à moral, ao conhecimento, etc. como aspectos da afirmação individual) podem ser infinitamente mais eficazes em sua capacidade para despertar as aspirações tendenciais do que uma weltanschaung.

Nesta perspectiva, sobressai que a sociologia da literatura deve ser também uma sociologia da fantasia, de sorte que, ao se orientar para a apreensão do desejado, assume um ponto de vista interior ao fato literário, trazendo para o campo da sociologia as significações que a própria fantasia comporta ou elucida – note-se que o valor desejado se pode afirmar sem o apoio de qualquer norma moral, ao passo que o elemento da norma não pode separar-se do valor desejado.

Antes de nos ensinar coisas, tais significações são aquelas de que nos ocupamos como indivíduos humanos, independentemente de nossas conclusões ou inferências conceituais (sejam justificativas ideológicas ou não). Em maneira indireta e variada, a fantasia elucida todos os achados, disfarces, fugas, subterfúgios estranhos, os quais ocupam nossas relações humanas pelo menos tanto quanto podem ensinar-nos alguma coisa.

Para constatar o interesse da sociologia da literatura no estudo das relações humanas basta reler a análise por Nathalie Sarraute (“L’Ére du Supçon”, Paris, Gallimard, 1956; publicado originalmente in “Les Temps Modernes”, Outubro, 1947) sobre a fantasia na ação dramática em Dostoyevski, tendo em referência o personagem do velho Karámazovi (Fiodor Pávlovitch) e seu comportamento perante o monge “staretz Zósima”, descrito no Livro II da Parte I de “Los Hermanos Karámazovi” (conforme a edição castelhana de Aguilar).

Nessa análise, são postos em relevo os procedimentos de Dostoyevski para fazer sobressair os estados ou movimentos sutis dificilmente perceptíveis, fugidícios, contraditórios, evanescentes que já notamos sob o conceito sociológico de fantasia , em que pese a utilização pouco refinada das gesticulações inverossímeis impostas aos personagens.

Tais procedimentos composicionais dostoyevskianos são descritos nessa análise e comentados na seguinte ordem: 1º) – a apresentação do velho Karámazovi por ele mesmo ao entrar em cena perante o staretz Zósima; 2º) – suas falas trocadas com o staretz. Assim, das páginas 33 a 37 do seu ensaio crítico literário Nathalie Sarraute reproduz as falas em que o velho Karámazovi se qualifica a ele próprio de “bufão” e como tal se recomenda à apreciação dos inúmeros presentes naquela cena, dizendo ser bufão por um antigo hábito. Então, a esta fala, o personagem faz caretas, se contorce, se exibe em poses grotescas; prossegue contando “com uma feroz e ácida lucidez” como ele se encontrou em situações humilhantes empregando ao falar os diminutivos simples e agressivos.

Destaca-se que Fiodor Karámazov mente frontalmente e quando pego é ligeiro em dar a volta por cima: “não se pode jamais pegá-lo desprevenido, ele se controla e, em face do flagrante reage dizendo não só que sabia estar mentindo, mas -pois ele tem adivinhações estranhas- dizendo haver pressentido que, tão logo começou a falar aos presentes, ali dentre eles estava o primeiro que iria fazê-lo remarcar estar mentindo”.

Mas não é tudo. Parecendo saber que ao diminuir a si próprio diminuía também os outros com ele, que os deixava aviltados, ele escarnece confessando haver inventado todo o dito naquele instante para fazer mais picante. Sarraute sublinha que tendo o olhar voltado para ele mesmo, ele se perscruta e se espia, pois será para lisonjear aos presentes, para os conciliar, para os desarmar que ele se debate dessa maneira, E ele mesmo o diz: “é para ser mais amável que eu faço caretas , aliás, às vezes nem sei porque”. Sarraute compara-o a um “clown” que se despe fazendo piruetas e nos mostra como ele é mordaz quando, ao dizer que um gênio ruim se fosse importante não poderia nele se hospedar, estende tal possibilidade aos presentes para refutá-la por eles, e acrescenta: “vós sois um abrigo estragado”.

É então a vez do monge staretz Zósima manifestar-se na cena e o faz rogando com instância a Fiodor Karámazovi para não se inquietar nem se molestar, para que esteja como em seu lar. Mas o staretz também é perscrutador e, examinando sem indignação nem desgosto “a matéria tulmutuosa que borbulha e transborda” (o velho Karámazovi a sua frente), acrescenta: “não tenha vergonha de você mesmo, pois é daí que tudo provém”. Todavia, será em face da contestação de Fiodor Karámazovi gracejando com o convite para portar-se ao natural que o staretz chega a compreendê-lo bem e percebe ter sido para se conformar à idéia que eles se fazem dele, para engrandecer-se mais ainda sobre eles, que ele se contorsiona. E Sarraute nos brinda com as seguintes frases selecionadas: “… porque me parece quando vou na direção das gentes… que todo o mundo me toma por bufão. Então eu me digo: façamos o bufão… pois todos, até o último, vós sois mais vis do que eu, eis porque eu sou um bufão… é por vergonha, eminente monge, por vergonha.”

Mas a fantasia não pára aí, pois, logo após esta fala ele se ajoelha e Sarraute nos oferece o comentário do próprio narrador dostoyevskiano: “mesmo então é difícil saber se ele brinca ou está emocionado”. O staretz em tom confidencial lhe diz que mentir a si mesmo é ofender-se até experimentar a satisfação, “um grande deleite”. Ora, Sarraute remarca que o velho Karámazovi se aproveita para afirmar haver sido justamente pela estética que ele sentira-se ofendido em toda a sua vida até o deleite, ironizando ao staretz por haver esquecido de que ser ofendido, às vezes, não é somente agradável, mas é belo. Então ele faz mais piruetas e se sai com uma nova tirada de arlequim: “vós credes que eu minto sempre assim e que faço o bufão? Saibam que é expresso para testá-los que representei essa comédia”. E Sarraute encerra sublinhando a frase final que ele interroga ao staretz se havia lugar para a humildade dele junto do orgulho deles.

Neste ponto podemos ver enfim, com Sarraute, que a fantasia é um conceito sociológico essencial; que sem uma apreciação detida e cuidadosa em que se recorre à experiência vivida ou à experiência refletida, à experiência própria ou à de outro, reconhecendo os pensamentos fugidios, os sentimentos sutis e dificilmente perceptíveis, contraditórios, bem como os esboços de apelos tímidos e de recuos jamais um leitor poderia alcançar ao menos uma ínfima parte do que esta passagem da ação dramática em Dostoyevski revelou.


Há portanto uma sociologia do desejo/aspiração, como prece/promessa/juramento, que implica e ultrapassa a noção de consciência possível aplicada na sociologia da literatura por Lucien Goldmann, entendida como noção que dá conta das aspirações tendenciais. Portanto, sendo um fato de valor, o objeto literário deve ser examinado como composto não somente de um elemento de significação (intelectual), mas, igualmente, traz um elemento de jubilo, de relação com o criador, de relação com os leitores, etc.

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NOTA COMPLEMENTAR

(1) – Em sociologia os valores ideais são dotados da característica de instrumentos de comunhão e princípios de incessante regeneração da vida espiritual se afirmando indispensavelmente por meio da afetividade coletiva. Qualquer valor pressupõe a apreciação de um sujeito em relação com uma sensibilidade indefinida: é o desejável, qualquer desejo sendo um estado interior.
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ANEXOS

O INDIVÍDUO, O MUNDO CORPORATIVO E
A CONCORRÊNCIA SUBLIMADA.

A Concorrência sublimada perde seu efeito de estímulo ou incentivo deixando em seu lugar as rixas que desgastam as relações interpessoais. Aliás, um dos aspectos da falta de motivação é que as recompensas distribuídas nas organizações para estimular a aplicação e o empenho estão referidas a um quadro em que a concorrência como valor já não encontra repercussão na experiência. A sociedade liberal clássica comportava uma interpenetração do aspecto econômico e do aspecto psicológico.

Hoje em dia, o indivíduo-alvo das expectativas de promoções e premiações sabe de antemão que as relações nas hierarquias do mundo corporativo são variáveis e que deve se agarrar às vantagens que consegue. Sobretudo, sabe que o peso específico do indivíduo nas relações empresariais não tem o alcance que teve nas sociedades realmente movidas pela livre iniciativa, desprovidas que eram as empresas dos controles econômicos e financeiros que limitaram a iniciativa no século Vinte.

Sociólogos notáveis que aprofundaram as análises dos processus psicossociológicos da reificação, estudaram as relações interpessoais cotejando a literatura do individualismo e o mundo da economia de mercado. Observando o romance no século XX constatou-se que, no anverso do desaparecimento mais ou menos acentuado do personagem individual com sua busca humana de autorealização e autenticidade nas relações sociais, foi acentuado o reforço da autonomia dos objetos.

Constatação esta que logo faz lembrar a observação de que as estruturas auto-reguladoras da economia de troca (no ápice das quais pontificam os controles de preços, os Bancos Centrais e o sistema do Fórum Econômico de Davos) levam ao deslocamento progressivo do que Lucien Goldmann chamou coeficiente de realidade do indivíduo cuja autonomia e atividade são transpostas para o objeto inerte [Ver: Goldmann, Lucien: Pour une Sociologie du Roman, Paris, Gallimard, 1964, 238 págs. Há tradução em Português].

É claro que o sociólogo tem em conta que, como transposição do coeficiente de realidade do indivíduo para o objeto inerte, a reificação é um processus psicológico permanente, agindo secularmente no âmbito da produção para o mercado.

Além disso, para desenvolver o aspecto concreto das estruturas reificacionais o sociólogo não deixa escapar o mencionado modelo de sociedade liberal clássica como comportando uma interpenetração do aspecto econômico e do aspecto psicológico.

A periodização da sociologia econômica é a seguinte:
(A)-fase da economia liberal se prolongando até o começo do século XX, caracteriza-da por manter ainda a função essencial do indivíduo na vida econômica (e por extensão na vida social).

Nesta fase, a referência sociológica principal é a constatação de que, no âmbito da interpenetração do aspecto econômico e do aspecto psicológico, a regulação da produção e do consumo em termos de oferta e demanda se faz por um modo implícito e não consciente, impondo-se à consciência dos indivíduos como a ação mecânica de uma força exterior.

Desta forma, todo um conjunto de elementos fundamentais da vida psíquica desaparece das consciências individuais no setor econômico, para delegar suas funções à categoria preço, que aparece como uma propriedade nova e puramente social dos objetos inertes, os quais, por sua vez, passam então a guardar as funções ativas dos homens, a saber: tudo aquilo que era constituído nas formações sociais pré-capitalistas pelos sentimentos transindividuais, pelas relações com os valores da afetividade que ultrapassam o indivíduo, incluindo o que significa a moral, a estética, a caridade, a fé. Ou seja, através da oferta e demanda os objetos inertes adquirem a dianteira sobre os sentimentos transindividuais projetados para fora de si.

Daí porque no romance clássico os objetos têm uma importância primordial, mas existem somente por meio do trato que lhe dão os indivíduos.

(B)-Entretanto, essa situação muda na fase dos trustes, monopólios e do capital financeiro, observada no fim do século XIX e, notadamente, no começo do século XX, tornando-se acentuada a supressão de toda a importância essencial do indivíduo e da vida individual na interior das estruturas econômicas.

(C)-Na fase do capitalismo de organização, observado depois dos anos de 1930 pela intervenção estatal impondo os mecanismos de auto-regulação da produção, se constata, em modo correlativo à supressão progressiva da importância essencial do indivíduo, não somente a independência crescente dos objetos, mas a constituição desse mundo de objetos em universo autônomo tendo sua própria estruturação.

Leia mais: O Romance o Individualismo e a Reificação
http://sociologia-jl.blogspot.com/2007/04/view-blog-top-tags.html

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  • OS CRITÉRIOS DO FATO LITERÁRIO E AS CONDIÇÕES DE UMA SOCIOLOGIA DA LITERATURA.

As dificuldades antepostas a uma sociologia da literatura ligam-se à orientação intelectual do chamado espírito burguês afirmando a independência total da cultura e da arte em relação às formas sociais, de tal sorte que a interpretação da arte não estaria contida na vida social. Daí surge o obstáculo da interdição pela sociedade. O receio de um efeito literalmente ameaçador da ordem torna o fato literário negado na sua significação, combatido como pura fantasia. Distingue-se uma espécie de respeito ao fato literário envolvendo-o em certo mistério.

Desta atitude provêm duas representações desfavoráveis à sociologia da literatura, seguintes: (a) – uma, a chamada teoria do gênio, que interpreta a figura do autor em termos do inexplicável e inesperado no concerto das paixões e dos pensamentos humanos; (b) – outra, referida à elaboração da obra, é a teoria romântica da inspiração, do mistério da criação, etc. Além disso, o espírito burguês pode levar os escritores a não gostarem de se ver integrados pela sociologia (Ver o Artigo de Albert MEMMI intitulado “Problemas de Sociologia da Literatura”, publicado como colaboração no Tratado de Sociologia-Vol. 2, dirigido por Georges Gurvitch., Porto, Iniciativas Editoriais, 1968 – 1ªedição em Francês: Paris, PUF,1960).

Pode-se observar algumas tentativas de pesquisa que, não obstante o pensamento objetivo, pouco favoreceram a sociologia da literatura. Umas porque mantiveram a opacidade intocável do fato literário; outras porque acentuaram a sua redução. No primeiro caso, resume-se a tentativa mais conhecida que foi a de TAINE, incluindo os seus colaboradores. No segundo caso, nota-se a tentativa marxista e a psicanalítica. Comenta-se que TAINE esperava fundamentar uma ciência positivista e determinista da literatura tomando como motivos de explicação (a) – a descoberta em cada escritor de uma faculdade mestra; (b) – a gênese dessa faculdade mestra a partir das suas três famosas condições: a raça, o meio e o momento.

O dogmatismo de TAINE é flagrante na analogia com as ciências naturais. No prefácio de sua obra “La Fontaine et ses Fables”, o ponto de vista naturalista vem a ser aplicado ao homem, tomando-o como um animal de espécie superior que produz as filosofias e os poemas pouco mais ou menos como os bichos da seda tecem os seus casulos e as abelhas elaboram os favos (Ibidem). Quanto aos seus continuadores, se repele o simplismo na aplicação do dogmatismo de TAINE, questionando-se, sobretudo a abordagem analítica redutiva na qual a obra literária, tida como mistério inefável e impenetrável, vem a ser reportada a um fator mais ou menos arbitrariamente escolhido.

Em relação à tentativa marxista, por sua vez, se lhe reconhece o mérito sociológico de empreender a inter-relação do espírito e das suas produções com os quadros sociais. O primeiro critério de análise marxista da obra literária é a fidelidade à realidade social. Nada obstante, a tentativa marxista de reduzir a literatura a um fato de conhecimento mediante a tipologia das visões de mundo atribuída a Georges Lukacs, é censurada por ameaçar a especificidade do fato literário. Ao traçar um método comum a todas as obras de pensamento tornou-se inevitável por conseqüência desprezar o que distingue precisamente o fato literário dos outros fatos . Censura idêntica se aplica à tentativa psicanalítica, em cuja abordagem necessariamente se tem de partir sempre de uma redução implicando uma negação da especificidade. Por contra, as condições de uma sociologia da literatura implicam a distinção entre fato literário e fato de conhecimento.


  • O PROBLEMA DAS RELAÇÕES COM A SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO.

Com efeito, já observamos que o fato literário é para uma sociedade um modo de ela tomar consciência de si própria. Daí advem o tabu que acentua exatamente a especificidade do fato literário e faz reconhecer no mesmo um fato de valor não confundível com as suas condições genéticas nem com as suas condições de sobrevivência, nem tampouco com as intenções do seu criador, nem enfim com as suas repercussões psicossociais. Aquilo que há na obra literária pelo qual se chega à afirmação de que a literatura satisfaz certa necessidade cultural não utilitária, ou seja: o valor literário, é inicialmente o elemento que difere um livro de poemas ou um romance de um jornal.

Sem dúvida, o qualificativo e o valor que ocorrem imediatamente aos leitores, pelo que eles identificam o fato literário, não é o mesmo para todos os públicos. A identificação do fato literário seja como romance ou poema ou ensaio se define também socialmente e não apenas pelo método, sem que isto impeça tomar-se o valor literário como ponto de partida da pesquisa sociológica. Tanto é assim que, para Albert MEMMI, a tarefa específica dessa pesquisa é a sociologia do fato literário, que este autor qualifica como uma sociologia privilegiada diante do objeto impresso. No seu dizer, trata-se da sociologia do que é adequado ao fato literário, do que neste não coincide com outra coisa, não coincide com o escrito como mercadoria, como produto de transformação, etc.(op.cit.).

Na busca dessa adequação é que se aprofunda o problema das relações com a sociologia do conhecimento chegando-se aos seguintes resultados: (a) – se um fato literário pode nos ensinar certas coisas e se a literatura é por isso uma das técnicas de comunicação social, o sociólogo deve precaver-se, entretanto de que é sempre possível uma distorção dos fatos: as informações dadas pelos escritores não atendem à finalidade de uma enquête. Quer dizer, (b) – embora possa admitir-se que o autor tenha a intenção de ensinar-nos certas coisas, as intenções do autor de obra literária são evasivas ou mudam de rumo no decurso da atividade. O que diz é quase tão importante quanto a forma de dizê-lo, forma esta que por sua vez influi sobre o conteúdo do discurso acabando por transformá-lo.

O escritor é um fabulador: não diz a verdade e é sempre a verdade que ele diz… à sua maneira. A distorção é sempre possível, seja em conseqüência de uma reconstrução imaginativa, por razões de forma ou simplesmente por ardil (ditado por razões sociais). A finalidade de uma obra literária não é a mesma de um documento, nada obstante admite-se possível interpretar as informações dadas pelos escritores considerada a finalidade estética da obra literária, na qual não se trata de representar a realidade social – para o que os jornais da época seriam superiores a todos os romances do mesmo período.

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